sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A baixa

A long, long time ago, antes de existirem centros comerciais, os rapazes terem brincos e usarem as calças a cairem pelas pernas abaixo, a Baixa era o centro comercial da cidade.
Na baixa, existia tudo, todas as lojas e quase todos os serviços.
Tudo se podia comprar.
E a minha Mãe adorava a baixa
Ah, preciso de uns sapatos.............vou á baixa
Ah, preciso de um vestido..............vou á baixa
Ah, os miudos precisam de casacos para o inverno..........vou á baixa
Á baixa ia-se para tudo e até se ia “para desanuviar” como dizia a minha Mãe.
A minha Mãe sempre foi Mãe e mulher de alguem, e deve ter havido muitos dias concerteza que não nos podia ver á frente, e então metia-se no electrico e lá ia ela para a baixa.
Irónico , as it may seems, a minha Mãe ia para a confusão para ter tempo para ela, para pensar, para passear e para estar sózinha.
Era o dia dela, eram os seus momentos.
Momentos sem ninguem a chatear, ou pedinchar qualquer coisa.
Vinha para casa cansada, mas revigorada e feliz.
Muitas vezes íamos as duas.
A agitação começava á hora de almoço, “vá, vamos almoçar cedo, para nos despacharmos para ir á baixa”. E lá íamos nós, as duas no eléctrico amarelinho dos antigos, daqueles que demoram uma eternidade a chegar e que tinham 50.000 paragens.
Mas, nós tinhamos tempo, íamos com todo o tempo do mundo.
Íamos para disfrutar!
Podiamos ir de comboio, mas o comboio era muito rápido, e nós não queriamos ter pressa.
Nós queriamos ir sentadinhas para ver o que havia de novo, ou apenas para ver as ruas, os prédios, as pessoas, as árvores, enfim, para termos tempo de ver tudo.
E, finalmente lá chegávamos à Praça do Comércio, paragem final.
A partir daqui íamos entrando e saindo das lojas, comparando preços, os tecidos, os acabamentos, os modelos.
Era ponto assente que tinhamos que ir aos armazéns do Chiado, ao Grandella, ao Braz & Braz, ao Paris em Lisboa, á Lisbonense e finalmente ao Jerónimo Martins.
Nestas tardes eu tinha direito a um chocolate da Regina, ou a uma sombrinha de chocolate, mais velha seria um gelado ou coisa parecida.
Sabia-me tão bem.
A minha Mãe tinha o passo rápido e nós percorriamos as ruas todas de alto abaixo. Era um frenesim.
Muitas vezes íamos dizer “olá” ao meu Pai, que trabalhava ali num banco na Rua do Ouro.
Era uma visita rápida, mas eu gostava de lá ir, ver os colegas, o sitio onde trabalhava, o movimento e por vezes pensava se algum dia também iria trabalhar num sitio assim (ingenuidade própria da idade). Vinhamos novamente para a rua e dáva-mos a última voltinha, antes de irmos esperar o eleétrico de volta para casa, na Praça do Comércio.
Chegávamos a casa cansadas, mas felizes.
A minha Mãe adorava a baixa.
E, hoje fui passear pela baixa. Desci o Chiado, dei-lhe a mão, e percorri as ruas principais para baixo e para cima com ela ali mesmo ao meu lado.
Foi bom recordar
Foi bom fazer uma coisa qque há muito não fazíamos.
Foi bom.
Mãe, tenho muitas saudades suas!!!!

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